domingo, 25 de março de 2012

há tempos

Há tempos meu quarto não via a luz do sol, os raios brancos de luz refletidos no lago que batem na minha janela por longas horas no dia. Há tempos meu quarto só via a escuridão, espalhada pela parede, deitada na cama, acariciando todos os objetos, os meus objetos, os meus livros, os meus lápis de cores. Os dezenove anos que acumulei.
Hoje o quarto viu muito sol, logo pela manhã. E aos poucos eu fui tendo o impulso de esconder tudo dentro dos armários e proteger tudo que é meu dessa sensação estranha de calor. de carinho. Tudo foi limpo com os produtos mais cheirosos. Tudo foi colocado convenientemente em seu próprio espaço confortavelmente escuro dentro das gavetas. As paredes rosas brilhavam, os móveis vazios respiravam finalmente depois de tanto tempo cobertos pela minha carga. Se via as almofadas, se via a estampa da cômoda, se via a cor da bancada. Não me via.
Não havia eu mesma em lugar algum do meu próprio quarto. Não havia nada sobre a minha vida no meu próprio abrigo.
Eu achei que por ir embora eu gostaria de me despedir do que eu sou aqui, do que sou hoje. Do que sou. Mas eu me enganei.
Os lápis de cores voltam, a aquarela da bancada também. As fotos na parede, as tranqueiras nos espaços vazios, as miniaturas, os livros, as brochuras, as lembranças. Tudo é meu. Tudo sou eu. E quando eu voltar eu quero me sentir aqui de novo.
Não vou ficar pra sempre em Barcelona.

Eu estou indo pra voltar.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Memória de dor, de lágrimas e de algo que preenche meu coração.

É morto. 77 anos e saúde, exceto por um câncer avassalador que foi lhe roubando a vida devagarinho. Devagarinho. Primeiro tomou sua independência, depois seu próprio ar, e logo nada mais lhe pertencia, a si mesmo. Ao seu ser.
Ditian é morto fisicamente, mas ele já se foi há tempo, quando primeiro essa doença o possuiu. Ele mesmo nunca possuiu doença alguma. Depois disso, ele foi apenas presença, companhia pro seu carrasco, escravo do corpo que hoje, às 13:40h o alforriou.
Liberdade, vovô.
Nem céu, nem limbo. Inferno nem cogito. Nem reencarnação.
O lugar pra onde você foi se chama liberdade.

Se eu pudesse colocar mil vezes a tag amor, essa seria minha última homenagem a ti.