Não converso com meu pai há mais de um ano, e moramos juntos. Não sei quem é o meu irmão, e moramos juntos.
Não compartilhamos de hábitos, não fazemos refeições juntos, não me sinto confortável na companhia deles. Eles igualmente não sabem do que eu gosto, não sabem o que eu penso, eu não sei com quem eles se relacionam e o que eles desejam. Somos desconhecidos. Exceto pelo fato de termos o mesmo sangue, por termos compartilhado o mesmo gene;
Quão importante é essa ligação?
Tradicionalmente, aceitamos relacionarmos com pessoas de quem não gostamos pela obrigação de confirmar os laços sanguineos em um plano social. Aprendemos desde pequenos que não importa o que seu pai ou irmão te faça, é imprescindível que você os ame e que esteja errada e arrependida em favor deles. Somos adestrados para sermos submetidos a todos os traumas e frustrações gerados dessa relação sem poder levantar questionamentos, simplesmente porque devemos à essas pessoas os cromossomos herdados.
Eu neguei isso.
Me condene agora! Por ter sofrido e continuar sofrendo por nunca ter superado certas imposições, certos acontecimentos. Me condene por sentir medos e tristezas incoerentes por culpa deste sangue.