segunda-feira, 15 de março de 2010

I MISS YOU SO!

in each little thing I do, I can find a piece of you, in each twist of time, in each twist of mind that I find to think of you. [...] It might take me two thousand years not to sing this song in tears, 'cause I feel so small in this big black hole and you're the one that makes me feel I'm alive.

quarta-feira, 10 de março de 2010

escorraçada pela vida excessiva dos sentidos.

Há tanto que eu queria ser. Tanto.
Eu queria fazer com que um milhão de pessoas escutassem a minha impassividade quanto ao mundo, quanto à injustiça de como as coisas transcorrem. Queria escrever o manifesto da desordem, da falta de lógica explicável pelo caos que habita a vida dos loucos: dos humanos. Queria ser a mão que pinta o grande e inovador quadro da verdade, que nada mais seria do que a rotina de todos os carros enfileirados, pela manhã, nas avenidas do mundo. Queria ser o sonho inspirador dos grandes gênios, daqueles que são tão inteligentes que se calam na certeza de que outros vão sonhá-lo de novo e de novo e de novo. Queria ser os membros que guiam os cegos de dores, queria ser os olhos dos insensíveis de vista. Queria ser a água que acorda um mundo para uma via láctea de possibilidades latentes que sempre estiveram ali, no lugar mais óbvio: no nosso sangue artístico e veloz e quente. No nosso coração explosivo, nas nossas fibras desesperadas. Em todas as partes de dentro de nós mesmos que ainda estão vivas. Queria descortinar o infinito que existe dentro de todos nós.
Mas eu sou só uma escorraçada pela vida excessiva dos sentidos.

terça-feira, 9 de março de 2010

Preto e Branco

Um palco vazio. Entram dois homens, um vestido de preto e o outro vestido de branco. Eles representam os dois lados do Autor. Isso a platéia já sabe porque está escrito no programa. Pelo Autor. Ou por um dos lados do Autor, já que o outro era contra. O outro lado do autor queria que o espectador deduzisse no transcorrer do diálogo que os dois atores representavam a mesma pessoa, porque, na sua opinião, dar muitas explicações para a platéia subverte a relação de cumplicidade misturada com hostilidade que deve existir entre palco e público, e nada destrói este clima mais depressa do que o público descobrir que está entendendo tudo. Os dois lados do Autor discutiram muito sobre isso e prevaleceu o lado que queria ser perfeitamente claro, mesmo com o perigo de frustrar o público. Palco Vazio. Dois homens, representando os dois lados do Autor. Um todo de preto, o outro todo de branco.
Homem de Branco - Preto.
Homem de Preto - Branco.
Branco- Por que não cinza?
Preto - Vem você com essa sua absurda mania de conciliação. Essa volúpia pelo entendimento. Essa tara pelo meio-termo!
Branco - Se não fosse isso nós não estaríamos aqui. Foi a minha moderação que nos manteve longe de brigas. Foi minha ponderação que nos preservou. Se eu fosse atrás de você...
Preto - Nós teríamos vivido! Pouco, mas com um brilho intenso. Teríamos dito tudo que nos viesse à cabeça. Distinguido o pão do queijo com audácia. Posto os pingos destemidos em todos os "is". Dado nome completo a todos os bois!
Branco - Em vez disso, fomos civilizados. Isto é, contidos e cordatos.
Preto - E temos os tiques nervosos pra provar.
Branco - Você preferiria ter feito a piada que magoaria o amigo? A verdade que destruiria o amor? O insulto que nos levaria ao Pronto- Socorro, setor traumatismo?
Preto - Preferiria. Para poder dizer que não me calei. Para poder dizer "Eu disse!"
Branco - Ainda bem que não é você que manda em nós.
Preto - Não, é você. Semrpe fazemos o que você determina. Ou não fazemos. Não dizemos, não vivemos! Estou dentro de você, fazendo, dizendo e vivendo só em pensamento. Se ao menos eu pudesse sair os sábados...
Branco - Para que? Para nos matar? Pior, nos envergonhar?
Preto - Melhor se envergonhar pelo dito e o feito do que pelo não dito e o adiado. Você sabe que cada soco que um homem não dá encurta a sua vida em 17 dias? E cada vez que um homem pensa em sair dançando um bolero e se controla, seu fígado aumenta? E cada...
Branco - Bobagem. Ainda bem que eu sou o verdadeiro nós.
Preto - Não, eu sou o verdadeiro você;
Branco - Você só é nós em pensamento. Você é a minha abstração.
Preto - Sou tudo o que em nós é autêntico e não reprimido. Ou seja: você é a minha falsificação.
Branco - Você não é uma pessoa, é uma impulsão.
Preto - Você não é uma pessoa, é uma interrupção;
[...]
Veríssimo.