Há tanto que eu queria ser. Tanto.
Eu queria fazer com que um milhão de pessoas escutassem a minha impassividade quanto ao mundo, quanto à injustiça de como as coisas transcorrem. Queria escrever o manifesto da desordem, da falta de lógica explicável pelo caos que habita a vida dos loucos: dos humanos. Queria ser a mão que pinta o grande e inovador quadro da verdade, que nada mais seria do que a rotina de todos os carros enfileirados, pela manhã, nas avenidas do mundo. Queria ser o sonho inspirador dos grandes gênios, daqueles que são tão inteligentes que se calam na certeza de que outros vão sonhá-lo de novo e de novo e de novo. Queria ser os membros que guiam os cegos de dores, queria ser os olhos dos insensíveis de vista. Queria ser a água que acorda um mundo para uma via láctea de possibilidades latentes que sempre estiveram ali, no lugar mais óbvio: no nosso sangue artístico e veloz e quente. No nosso coração explosivo, nas nossas fibras desesperadas. Em todas as partes de dentro de nós mesmos que ainda estão vivas. Queria descortinar o infinito que existe dentro de todos nós.
Mas eu sou só uma escorraçada pela vida excessiva dos sentidos.